A fibromialgia é uma condição crônica caracterizada por dor musculoesquelética generalizada, fadiga e sensibilidade em diversas áreas do corpo. Essa doença, reconhecida pelo CID-10 com o código M79.7, é complexa e afeta profundamente a qualidade de vida dos pacientes, causando também distúrbios do sono, problemas de memória e alterações de humor. Quando a fibromialgia se torna debilitante a ponto de impedir a realização de atividades diárias e laborais, muitas pessoas recorrem à aposentadoria por invalidez ou ao auxílio-doença, dependendo do grau de incapacidade.
Este artigo aborda de forma detalhada o que é a fibromialgia, seus sintomas, diagnóstico, tratamento e como funciona o processo de aposentadoria para pessoas com essa condição no Brasil.
O que é fibromialgia?
A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por dor crônica generalizada em músculos e articulações, frequentemente acompanhada de uma série de outros sintomas, como fadiga, distúrbios do sono, problemas de concentração e memória (conhecido como “fibro fog”). Apesar de não haver uma inflamação visível ou lesão que explique a dor, os pacientes experimentam sensibilidade aumentada ao toque, o que torna atividades rotineiras dolorosas.
A condição é mais comum entre mulheres, embora homens também possam ser diagnosticados. A fibromialgia pode surgir em qualquer idade, mas geralmente começa a se manifestar na idade adulta. O diagnóstico, em muitos casos, é desafiador, pois os sintomas da fibromialgia são semelhantes a outras condições, como artrite reumatoide e lúpus.
Causas da fibromialgia
A causa exata da fibromialgia ainda não é completamente compreendida, mas pesquisas sugerem que uma combinação de fatores genéticos, ambientais e biológicos pode contribuir para o desenvolvimento da doença. Entre os fatores mais citados estão:
- Genética: estudos indicam que a fibromialgia pode ter uma predisposição genética, ou seja, pessoas com familiares que têm a condição apresentam maior risco de desenvolvê-la.
- Sensibilização central: acredita-se que a fibromialgia esteja relacionada à forma como o cérebro e a medula espinhal processam os sinais de dor. Pessoas com fibromialgia podem ter uma sensibilidade aumentada à dor, devido a uma amplificação dos sinais dolorosos no sistema nervoso central.
- Fatores ambientais e emocionais: traumas físicos, infecções e estresse emocional severo são gatilhos comuns associados ao surgimento da fibromialgia. Algumas pessoas desenvolvem a condição após uma cirurgia, um acidente ou eventos altamente estressantes, como perdas emocionais.
- Distúrbios do sono: a qualidade do sono afeta diretamente a percepção da dor. A interrupção contínua do sono profundo pode agravar a dor e a fadiga, comuns na fibromialgia.
Sintomas da fibromialgia
Os sintomas da fibromialgia são variados e podem afetar diversas áreas do corpo e funções do organismo. Os mais comuns incluem:
- Dor generalizada: a dor da fibromialgia é descrita como uma dor constante e difusa, que pode ser leve ou severa. Muitas vezes, é sentida como uma dor “latejante” ou como uma sensação de rigidez em todo o corpo.
- Fadiga: os pacientes frequentemente relatam sentir-se exaustos, mesmo após dormirem por longos períodos. A fibromialgia está associada a distúrbios do sono, como apneia do sono ou síndrome das pernas inquietas, que prejudicam o descanso.
- Problemas cognitivos: dificuldades em se concentrar, lapsos de memória e raciocínio lento são sintomas comuns, conhecidos como “fibro fog” ou “névoa fibro”.
- Sensibilidade aumentada: pessoas com fibromialgia têm uma maior sensibilidade à dor, mas também podem ser sensíveis a ruídos, luzes, cheiros fortes e temperaturas extremas.
- Distúrbios emocionais: a dor crônica e o impacto da fibromialgia na vida diária podem levar a transtornos de humor, como depressão e ansiedade.
Esses sintomas podem variar em intensidade ao longo do tempo e podem ser desencadeados por eventos como estresse, alterações climáticas, falta de sono ou esforço físico.
Diagnóstico da fibromialgia
O diagnóstico da fibromialgia é desafiador, pois não há exames laboratoriais ou de imagem específicos que possam confirmar a condição. O diagnóstico é clínico, baseado na exclusão de outras doenças e na identificação dos sintomas característicos da fibromialgia.
Os critérios diagnósticos incluem a presença de dor generalizada por pelo menos três meses e a ausência de outras condições que poderiam explicar a dor. Antigamente, eram utilizados pontos de sensibilidade (tender points) como critério diagnóstico, mas atualmente o diagnóstico se baseia mais na descrição da dor e nos sintomas relacionados, como fadiga e problemas de sono.
Os médicos também podem solicitar exames laboratoriais para descartar outras condições que causam sintomas semelhantes, como artrite reumatoide, lúpus e doenças da tireoide.
Tratamento da fibromialgia
Embora a fibromialgia não tenha cura, existem várias opções de tratamento que podem ajudar a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. O tratamento é multidisciplinar e deve ser ajustado para atender às necessidades individuais de cada paciente. As principais abordagens incluem:
- Medicações: analgésicos, antidepressivos e medicamentos anticonvulsivantes são comumente prescritos para ajudar a controlar a dor, melhorar o sono e reduzir os sintomas depressivos associados à fibromialgia. Os antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina, e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) podem ser eficazes no alívio da dor e no combate à fadiga.
- Fisioterapia: a fisioterapia é fundamental no tratamento da fibromialgia. Exercícios leves e alongamentos ajudam a melhorar a flexibilidade, reduzir a dor e fortalecer os músculos. Técnicas de relaxamento e terapia manual também são benéficas.
- Atividade física regular: a prática de exercícios de baixo impacto, como caminhadas, natação ou ioga, pode ser extremamente eficaz no controle dos sintomas da fibromialgia. A atividade física ajuda a reduzir a dor e melhora o humor e a qualidade do sono.
- Psicoterapia: a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é frequentemente recomendada para ajudar os pacientes a lidar com a dor crônica e as emoções associadas à fibromialgia. A TCC ensina estratégias para enfrentar o estresse e a ansiedade, que podem agravar os sintomas.
- Mudanças no estilo de vida: manter uma dieta saudável, garantir um bom sono e evitar situações de estresse são medidas importantes para gerenciar a fibromialgia. Técnicas de relaxamento, como meditação, respiração profunda e massagem, também são recomendadas.
Aposentadoria por fibromialgia
Em casos graves, onde a fibromialgia interfere de forma significativa na capacidade de trabalhar, o paciente pode solicitar a aposentadoria por invalidez ou o auxílio-doença. A fibromialgia, por ser uma doença crônica, pode causar limitações funcionais severas, e muitos pacientes não conseguem manter suas atividades laborais devido à dor e ao cansaço extremo.
Como solicitar o afastamento ou aposentadoria por fibromialgia
No Brasil, o trabalhador diagnosticado com fibromialgia e incapaz de trabalhar pode solicitar o auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O processo envolve algumas etapas:
- Atestado médico: o primeiro passo é obter um atestado médico emitido por um reumatologista ou clínico geral, detalhando o diagnóstico de fibromialgia (CID M79.7), os sintomas e a incapacidade para o trabalho.
- Perícia médica do INSS: o trabalhador deve solicitar o benefício e passar por uma perícia médica, onde será avaliado por um médico do INSS. A perícia determinará se o paciente está temporariamente ou permanentemente incapacitado para o trabalho.
- Concessão do benefício: se a perícia concluir que a fibromialgia incapacita o trabalhador de forma temporária, será concedido o auxílio-doença. Em casos de incapacidade permanente, a aposentadoria por invalidez pode ser aprovada.
O processo de obtenção do benefício pode ser desafiador, pois a fibromialgia não causa deformidades visíveis e seus sintomas são subjetivos. Por isso, é importante que o paciente tenha um histórico médico detalhado e que o laudo médico descreva claramente o impacto da doença na capacidade funcional.
Desafios do afastamento por fibromialgia
O processo de afastamento ou aposentadoria por fibromialgia pode ser complicado, já que, muitas vezes, a doença não é bem compreendida, tanto por empregadores quanto por médicos peritos. A subjetividade dos sintomas torna difícil a comprovação da incapacidade laboral, e muitos pacientes relatam a necessidade de passar por diversas perícias para obter o reconhecimento do benefício.
Para melhorar as chances de sucesso no processo de aposentadoria, é fundamental que o paciente tenha um acompanhamento médico regular, com laudos bem elaborados que comprovem a gravidade da doença e suas limitações funcionais. Além disso, o apoio de um advogado especializado em direito previdenciário pode ser útil para orientar o processo.
Impacto da fibromialgia na vida cotidiana
A fibromialgia afeta profundamente a qualidade de vida dos pacientes. A dor crônica, a fadiga e os problemas cognitivos interferem na capacidade de realizar tarefas simples do dia a dia, como cuidar da casa, realizar atividades físicas e manter relacionamentos.
Além dos sintomas físicos, a fibromialgia também pode causar impactos emocionais, como depressão e ansiedade, devido às limitações impostas pela doença. O isolamento social é comum, já que muitos pacientes encontram dificuldades em participar de eventos sociais ou manter uma rotina de trabalho regular.
Conclusão
A fibromialgia é uma condição complexa que pode ser extremamente debilitante para quem a enfrenta. Embora o tratamento possa ajudar a controlar os sintomas, muitos pacientes se veem incapacitados de continuar suas atividades laborais, o que leva à busca pelo afastamento ou aposentadoria por invalidez.
O processo de obtenção de benefícios previdenciários para fibromialgia pode ser desafiador, mas com o acompanhamento médico adequado e uma documentação bem elaborada, é possível garantir os direitos do paciente. Mais importante ainda, a compreensão e o apoio das pessoas ao redor são essenciais para ajudar os indivíduos com fibromialgia a viver com dignidade e qualidade de vida, apesar dos desafios impostos pela doença.
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