O Benefício de Prestação Continuada (BPC), garantido pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), é um direito concedido a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda. Entre as deficiências que podem garantir o acesso ao BPC estão as doenças mentais, que muitas vezes comprometem a capacidade de uma pessoa de realizar atividades do dia a dia e de se inserir no mercado de trabalho. Neste artigo, vamos explorar em detalhes quais doenças mentais dão direito ao BPC, os requisitos necessários para a concessão do benefício e como funciona o processo de solicitação.

O que é o BPC/LOAS?

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um auxílio de um salário mínimo mensal, concedido a idosos com mais de 65 anos ou a pessoas com deficiência de qualquer idade que não têm condições de prover seu sustento ou de serem sustentadas por sua família. O benefício é pago pelo governo federal e, diferentemente da aposentadoria, não exige contribuição prévia ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

No caso das pessoas com deficiência, o BPC é voltado para aqueles que apresentam impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que dificultam sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Doenças mentais que podem garantir o direito ao BPC

As doenças mentais que podem garantir o direito ao BPC são aquelas que provocam uma incapacidade severa e prolongada, tornando o indivíduo incapaz de realizar atividades cotidianas e de exercer atividades laborais. Para ser considerado elegível ao BPC, é necessário comprovar que a doença mental gera um impedimento significativo, duradouro e que compromete a autonomia da pessoa.

Entre as principais doenças mentais que podem dar direito ao BPC estão:

Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental grave que afeta a forma como uma pessoa pensa, sente e se comporta. Os indivíduos com esquizofrenia podem experimentar alucinações, delírios, pensamentos desorganizados e comportamentos anormais. A incapacidade de distinguir o real do imaginário torna a vida social e profissional desses pacientes extremamente difícil, o que pode garantir o direito ao BPC em casos onde a condição é incapacitante e duradoura.

Transtorno bipolar

O transtorno bipolar é caracterizado por mudanças extremas de humor, que variam entre episódios de depressão profunda e de mania (euforia e hiperatividade). Essas variações de humor podem interferir significativamente na capacidade de uma pessoa de trabalhar, estudar ou realizar atividades básicas. Quando o transtorno bipolar se manifesta de forma grave e compromete a vida funcional do indivíduo, ele pode ter direito ao BPC.

Transtorno depressivo maior

A depressão, em sua forma mais grave, conhecida como transtorno depressivo maior, pode ser debilitante. Pessoas que sofrem dessa condição experimentam sentimentos profundos de tristeza, desesperança e desinteresse pela vida. A depressão grave pode impactar severamente a capacidade de uma pessoa de trabalhar e interagir socialmente, o que pode justificar a concessão do BPC quando a incapacidade é prolongada.

Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) surge após uma pessoa passar por uma situação traumática intensa, como violência, desastres ou acidentes graves. Pessoas com TEPT podem reviver o trauma, ter pesadelos, evitar situações que lembrem o evento e sofrer de ansiedade severa. Se o TEPT impactar de forma significativa a capacidade da pessoa de realizar atividades cotidianas, ela pode ter direito ao BPC.

Transtornos de ansiedade graves

Transtornos de ansiedade graves, como o transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno de pânico, podem impedir a pessoa de viver uma vida funcional. Quando a ansiedade é tão intensa que compromete a capacidade de uma pessoa de realizar tarefas simples, como sair de casa, trabalhar ou socializar, pode-se considerar a concessão do BPC, desde que o quadro seja devidamente comprovado e atestado por especialistas.

Autismo (transtorno do espectro autista)

O transtorno do espectro autista (TEA) engloba uma ampla gama de condições, caracterizadas por desafios em comunicação, interação social e comportamento repetitivo. As pessoas com autismo podem ter níveis variados de independência e funcionalidade. Nos casos mais graves, em que o autismo afeta severamente a capacidade de interação social e de realização de atividades diárias, o BPC pode ser concedido para garantir o sustento do indivíduo.

Deficiência intelectual

A deficiência intelectual é caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e em habilidades de vida prática e social. Pessoas com deficiência intelectual têm dificuldade em aprender, resolver problemas e se adaptar a novas situações. Nos casos graves, quando essas limitações impedem a pessoa de trabalhar ou cuidar de si mesma, o BPC pode ser solicitado.

Transtornos psicóticos

Os transtornos psicóticos são marcados pela perda de contato com a realidade, manifestando-se em sintomas como delírios e alucinações. Além da esquizofrenia, outras condições como o transtorno esquizoafetivo e os episódios psicóticos agudos também podem comprometer gravemente a vida funcional de um indivíduo. Quando esses transtornos são crônicos e incapacitantes, o BPC pode ser uma forma de garantir o sustento do paciente.

Requisitos para a concessão do BPC

Para ter direito ao BPC, além de comprovar a deficiência mental, o solicitante deve atender a alguns requisitos relacionados à renda familiar e à incapacidade:

Comprovação de incapacidade

A pessoa com doença mental que busca o BPC deve comprovar que a condição mental impede sua participação plena na sociedade e no mercado de trabalho. Isso deve ser atestado por laudos médicos emitidos por especialistas, como psiquiatras, psicólogos ou neurologistas. O laudo deve detalhar a doença, os tratamentos realizados e os impactos que a condição causa na vida do paciente.

Critério de renda

Além da comprovação da deficiência mental, o BPC é destinado a pessoas de baixa renda. A renda familiar per capita deve ser inferior a 1/4 do salário mínimo. Isso significa que, somando todos os rendimentos da família e dividindo pelo número de integrantes, o valor por pessoa deve ser menor do que esse limite.

Em alguns casos, é possível flexibilizar esse critério de renda quando houver comprovação de gastos elevados com tratamentos médicos, medicamentos ou outros cuidados especiais que a pessoa com deficiência possa necessitar.

Avaliação social e médica

A solicitação do BPC envolve a realização de uma avaliação social e uma perícia médica pelo INSS. A avaliação social verifica as condições de vida e a renda da família, enquanto a perícia médica examina a gravidade da doença mental e seu impacto na capacidade do indivíduo de realizar atividades cotidianas e de se sustentar.

Como solicitar o BPC

O processo de solicitação do BPC começa com o agendamento da perícia médica e da avaliação social no site ou aplicativo “Meu INSS” ou por meio do telefone 135. Durante a perícia, o segurado deverá apresentar:

  • Laudos médicos que comprovem a doença mental
  • Exames complementares, se aplicáveis
  • Relatórios de tratamentos médicos e de terapias
  • Atestados que demonstrem a incapacidade de realizar atividades laborais

Após a perícia e a avaliação social, o INSS determinará se o solicitante atende aos requisitos do BPC. Caso o pedido seja negado, o solicitante pode entrar com recurso administrativo ou judicial para reverter a decisão.

Considerações finais

O BPC é um benefício fundamental para garantir a dignidade e o sustento de pessoas com doenças mentais graves que, devido à sua condição, não podem trabalhar e viver de forma autônoma. Doenças como esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão grave, autismo e outras podem ser debilitantes a ponto de impedir o indivíduo de participar ativamente da sociedade.

Entender os critérios para a concessão do BPC, como a comprovação de incapacidade e o critério de renda familiar, é essencial para que as pessoas com doenças mentais possam acessar esse direito. O acompanhamento médico adequado, a documentação correta e a orientação especializada são passos fundamentais para garantir o benefício e melhorar a qualidade de vida desses indivíduos.

Caso o pedido de BPC seja negado, é sempre recomendável buscar apoio de profissionais especializados, como advogados previdenciários ou assistentes sociais, para garantir que os direitos sejam respeitados e que o solicitante tenha acesso ao benefício.