O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica caracterizada por sintomas como dificuldade de concentração, impulsividade e hiperatividade. Embora o TDAH seja comumente associado a crianças, ele pode persistir na vida adulta, impactando a qualidade de vida e a capacidade de realizar tarefas cotidianas, incluindo atividades profissionais. Em muitos casos, o transtorno pode gerar uma situação de vulnerabilidade social que leva à solicitação de benefícios assistenciais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS).

Este artigo busca esclarecer se pessoas com TDAH têm direito ao BPC, quais os requisitos para a concessão do benefício e como solicitar esse direito junto ao INSS. Além disso, abordaremos a importância do diagnóstico médico e a relação entre o transtorno e a incapacidade para o trabalho.

O que é o BPC-LOAS e quem pode solicitar

O Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS) é um benefício assistencial destinado a pessoas com deficiência ou idosos em situação de vulnerabilidade econômica. Este benefício não exige contribuição prévia à Previdência Social, como ocorre com outros benefícios, como a aposentadoria por invalidez ou o auxílio-doença. O BPC-LOAS garante um pagamento mensal no valor de um salário mínimo e está regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), estabelecendo uma rede de proteção para os mais vulneráveis socialmente.

Para ter direito ao BPC, o solicitante deve atender a alguns requisitos essenciais. O primeiro deles é a comprovação da deficiência ou da idade avançada (acima de 65 anos), juntamente com a comprovação de renda familiar per capita inferior a 1/4 do salário mínimo vigente.

TDAH é considerado deficiência para o BPC?

Uma das principais dúvidas que surgem é se o TDAH pode ser classificado como uma deficiência, uma vez que muitas vezes o transtorno não é reconhecido como tal pelas pessoas ou pela sociedade. O TDAH é uma condição neurobiológica que afeta o funcionamento cognitivo, emocional e comportamental do indivíduo, o que pode resultar em dificuldades para realizar atividades cotidianas, incluindo o trabalho.

Para ter direito ao BPC, é necessário que a deficiência seja comprovada e que o transtorno leve a uma limitação significativa nas atividades diárias, configurando uma situação de vulnerabilidade social. O TDAH pode ser considerado uma deficiência, desde que o transtorno esteja severamente comprometendo a capacidade do indivíduo de se auto sustentar e de participar ativamente da sociedade.

É importante destacar que a legislação brasileira não especifica de maneira direta se o TDAH se enquadra como deficiência para fins de BPC, sendo necessária uma avaliação médica detalhada e um relatório técnico para comprovar o impacto do transtorno nas atividades diárias.

Como a deficiência causada pelo TDAH pode interferir na vida do solicitante

O TDAH pode afetar gravemente a capacidade de uma pessoa de se concentrar, organizar tarefas, controlar impulsos e manter um comportamento social adequado. Essas dificuldades podem resultar em problemas sérios em diversas áreas da vida, como:

  • Trabalho: Adultos com TDAH frequentemente enfrentam dificuldades em manter empregos estáveis devido à falta de organização, dificuldades de foco e impulsividade. Essas limitações podem resultar em uma incapacidade temporária ou permanente para o trabalho, o que pode justificar a solicitação do BPC.
  • Educação: O TDAH também afeta a vida acadêmica de crianças e jovens, pois a falta de concentração e a impulsividade podem dificultar o desempenho escolar. Essa condição pode ser uma das razões para o baixo rendimento escolar, o que afeta a vida profissional futura.
  • Relacionamentos sociais e familiares: A impulsividade e a dificuldade em controlar o comportamento podem afetar negativamente os relacionamentos pessoais e familiares. Isso gera um ambiente de vulnerabilidade social e emocional, que pode levar à necessidade de apoio governamental.

Portanto, o TDAH pode, de fato, configurar uma deficiência, especialmente quando impede o indivíduo de desempenhar suas funções cotidianas de forma autônoma, resultando em um estado de vulnerabilidade que justifique o acesso ao BPC.

Como solicitar o BPC-LOAS para quem tem TDAH

Para solicitar o BPC-LOAS, a pessoa com TDAH ou seus responsáveis legais devem seguir um processo junto ao INSS. A solicitação inclui a apresentação de documentos médicos, laudos especializados e a comprovação de que a condição impossibilita a pessoa de se manter de forma autônoma. Veja os passos a seguir:

Passo 1: Obter laudo médico especializado

O primeiro passo para solicitar o BPC é obter um laudo médico detalhado que comprove a condição de saúde do solicitante e a limitação que o TDAH impõe nas atividades cotidianas. O laudo deve ser emitido por um profissional qualificado, como um psiquiatra ou neurologista, e deve detalhar como o transtorno afeta a capacidade de trabalho, estudo e vida social do indivíduo.

Passo 2: Comprovação da condição financeira

Além do laudo médico, é necessário comprovar a renda familiar per capita inferior a um quarto do salário mínimo. Para isso, o solicitante deve apresentar documentos que comprovem a composição familiar e a renda de todos os membros da casa, como extratos bancários, comprovantes de pagamento, declarações de impostos de renda, entre outros.

Passo 3: Solicitar o BPC junto ao INSS

Com os documentos médicos e financeiros em mãos, o próximo passo é agendar a solicitação do BPC no INSS. Isso pode ser feito de forma online ou presencial. Após o agendamento, será realizada uma análise detalhada pela equipe técnica do INSS, que pode agendar uma perícia social para avaliar a situação socioeconômica e a deficiência apresentada.

Passo 4: Aguardar a decisão

Após a análise da documentação, o INSS emitirá sua decisão sobre o pedido. Caso o benefício seja negado, é possível interpor recursos administrativos ou judiciais, o que pode ser feito com o apoio de um advogado especializado em direito previdenciário.

Importância do diagnóstico médico e avaliação detalhada

A avaliação detalhada do impacto do TDAH na vida do solicitante é crucial para determinar se ele se enquadra nas condições necessárias para receber o BPC. Embora o TDAH seja um transtorno amplamente reconhecido, a forma como ele afeta a vida de cada indivíduo varia. A análise deve considerar fatores como:

  • Dificuldade no desempenho de atividades cotidianas: Isso inclui dificuldades para trabalhar, estudar ou realizar tarefas simples devido à falta de concentração ou impulsividade.
  • Impossibilidade de exercer atividades de forma autônoma: Quando o TDAH prejudica a capacidade de o indivíduo se sustentar financeiramente ou de participar de forma plena na sociedade, ele pode ser considerado como uma deficiência.
  • Impacto na vida familiar e social: O TDAH pode afetar os relacionamentos interpessoais e criar uma situação de dependência emocional e financeira, configurando uma situação de vulnerabilidade social.

Quando é necessário buscar assistência jurídica

Em alguns casos, a solicitação do BPC-LOAS pode ser complexa, principalmente quando o INSS nega o benefício. Nesse sentido, é fundamental contar com a assistência de um advogado especializado em direito previdenciário. O advogado pode ajudar no processo de coleta de documentos, interposição de recursos e até no ajuizamento de ações judiciais, caso necessário, para garantir que os direitos do solicitante sejam respeitados.

Conclusão

O TDAH pode, sim, ser considerado uma deficiência para a concessão do BPC-LOAS, desde que o transtorno interfira significativamente na capacidade de realizar atividades cotidianas e comprometa a qualidade de vida do indivíduo. Ao reunir a documentação necessária e seguir os procedimentos corretos, é possível acessar esse benefício, que visa garantir a dignidade e o suporte financeiro para aqueles que não conseguem prover o próprio sustento devido a essa condição.

Embora o processo de solicitação do BPC para portadores de TDAH possa ser desafiador, a busca por orientação especializada e a apresentação de um diagnóstico médico detalhado são passos fundamentais para assegurar os direitos do solicitante.