Em 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a campanha “1ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito”, visando sensibilizar os países a adotar medidas para reduzir em 50% as fatalidades no trânsito até 2020. No entanto, conforme revelado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quarta-feira (2/8), o Brasil não atingiu essa meta. O estudo intitulado “Balanço da 1ª década de ação pela segurança no trânsito no Brasil e perspectivas para a 2ª década”, elaborado pelos pesquisadores Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho e Erivelton Pires Guedes, apontou um aumento de 13,5% nas mortes por acidentes de trânsito entre 2010 e 2019 em comparação com a década anterior.

Os acidentes envolvendo motocicletas foram os principais impulsionadores desse aumento, enquanto houve uma diminuição nos casos de atropelamentos e colisões automobilísticas, mantendo a taxa geral praticamente inalterada. Os pesquisadores basearam sua análise em dados do Datasus, do Ministério da Saúde, e em registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o período de 2010 a 2019.

Destaca-se que a crise econômica, especialmente acentuada a partir de 2014, coincidiu com uma significativa redução na taxa de mortalidade no trânsito, ressaltando a sensibilidade desses números às condições econômicas. Porém, as regiões Nordeste e Norte experimentaram um aumento alarmante nas fatalidades, principalmente devido ao crescimento da frota de veículos motorizados.

Os custos sociais e econômicos associados aos acidentes de trânsito são consideráveis, ultrapassando os 50 bilhões de reais anualmente, o que inclui despesas com saúde, previdência e perda de renda das famílias afetadas. Ademais, as principais causas dos acidentes, segundo a PRF, são a falta de atenção dos condutores, infrações de trânsito e o consumo de álcool.

As políticas públicas para mitigar esses números enfrentam desafios, especialmente devido aos cortes de recursos destinados a programas de segurança viária, como o Funset e o DPVAT. Apesar dos avanços legislativos, como a lei seca e requisitos mais rigorosos para motoristas profissionais, a eficácia dessas medidas depende da fiscalização e conscientização adequadas da sociedade.

Enfatizou-se a importância de políticas efetivas de educação e investimentos em infraestrutura para reverter esse cenário alarmante. Com o lançamento da 2ª Década de Segurança no Trânsito pela ONU em 2020, o Brasil tem a oportunidade de redobrar seus esforços, incorporando o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) em suas metas, visando tornar as cidades mais seguras para todos os usuários das vias públicas.